Edição #12

Por que vivemos fora do nosso padrão financeiro de vida?

Por Wolney Carvalho

Wolney-2A última década foi marcada por mudanças significativas na estrutura social e econômica no Brasil, a exemplo da ascensão social de setores praticamente excluídos do mundo do consumo (as classes C, D e E), do aumento expressivo da oferta de crédito e da diminuição das taxas de juros. A variável macroeconômica correspondente ao consumo das famílias teve grande importância, alavancando o crescimento da economia como um todo.

Todavia constata-se que esse aumento do consumo foi efetivado com pouca organização econômica. Assim, a falta de uma racionalidade econômica pode causar problemas no orçamento financeiro pessoal e familiar, ou seja, a baixa educação financeira e o impulso consumista fazem com que muitos brasileiros gastem seu dinheiro sem pensar.

Segundo dados da CNC, em fevereiro de 2016, 60,8% das famílias brasileiras tinham algum tipo de dívida. No entanto deve-se distinguir os diferentes perfis de endividamento. Uma família que participa dos programas habitacionais do governo federal, por exemplo, está endividada, mas com juros e parcelas baixas, que podem ser pagas tranquilamente. A mesma situação ocorre com quem usa cartão de crédito e paga a fatura em dia. Possuir uma dívida tendo os meios e planejando pagá-la não é problemático.

Os dados preocupantes são os das contas em atraso. Cerca de 23,5% dos brasileiros possuem pendências financeiras. Em torno de 6,3% das famílias admitem não terem condições de quitar suas dívidas. De acordo com a CNC, o tipo mais comum é a do cartão de crédito, pois 71,4% das pessoas que recebem até dez salários mínimos possuem algum tipo de dívida com cartão de crédito. Em seguida vem o endividamento pessoal com casa, carro e carnês, 9,6%, 8,2% e 6,1% respectivamente.

Os juros cobrados no cartão de crédito são os mais altos do mercado, em torno de 450% ao ano, seguidos dos juros do cheque especial, na casa dos 300% ao ano.

Percebe-se assim a relevância da educação financeira dos trabalhadores, primeiramente como forma de melhorar o orçamento pessoal e familiar buscando otimizar os gastos com moradia, alimentação, transporte, cuidados pessoais, saúde, vestuário, estudos, lazer e outros.

Nesse sentido, pelo quarto ano é desenvolvido um projeto de extensão da UNILA chamado “Desmistificando a análise econômico-financeira pessoal: uma assessoria econômico-financeira à comunidade de Foz do Iguaçu”. Com apoio do estudante Rafael Teixeira também são realizadas palestras em escolas da cidade e distribuídas cartilhas de orientação financeira (em português e espanhol). Este ano, graças a parcerias, o projeto ganhou espaços fixos para o atendimento à comunidade.

Nesse período, essa atividade tem ajudado centenas de homens e mulheres a sair do sufoco. O serviço prestado ao público pela universidade visa a auxiliar pessoas que buscam resolver situações financeiras difíceis, como o endividamento; orientar aqueles que desejam planejar o orçamento para a aquisição de bens (como um imóvel ou carro); e oferecer outros tipos de orientações sobre finanças pessoais. Todos os atendimentos têm garantia de sigilo.

A proposta desse projeto é ensinar às pessoas a gerir melhor os recursos e mostrar que isso é uma prática possível. Isso exige decisão, mudança e comprometimento. Decido esperar para ter o dinheiro e comprar à vista ou prefiro antecipar, pagar em prestações e assumir dívidas? Quando as pessoas partem para um novo caminho, descobrem que as contas fecham e podem ter uma vida mais tranquila.

Wolney Carvalho é doutor em Sociologia Política e mestre em Economia, Wolney Carvalho é professor do curso de Ciências Econômicas da UNILA.


Serviço:
Projeto de Orientação Financeira UNILA

Guarda Mirim (Rua Tadeu Trompschinski, 56 – Maracanã), terças e sextas, das 9h às 12h.
Livraria Kunda (Rua Almirante Barroso, 1.473 – Centro), sábados, das 9h às 13h.
Agendamentos de atendimento: assessoriaunila@gmail.com.

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