Se há algo que marcou Foz antes da Itaipu foi a Ponte da Amizade
O livro Foz do Iguaçu – Retratos, produzido pela extinta editora Campana & Alencar Ltda., em 1997, reúne relatos de personalidades que estiveram ligadas à construção da Ponte da Amizade. A obra traz entrevistas inéditas e extraídas dos jornais locais. Veja a seguir trechos de matérias publicadas no jornal A Gazeta do Iguaçu e republicadas no livro.
Antônio Urnau é um personagem do livro que aparece com fortes lembranças da importância das obras. “Significou muito. Essa ponte transformou Foz do Iguaçu. Tratava-se de uma grande obra, comparável até à Itaipu. Uma empresa do Rio de Janeiro foi encarregada da construção, mas vieram engenheiros até do exterior acompanhar a obra”, relatou, em 1991.
O alfaiate, militar, caminhoneiro, música e taxista Francisco Ferreira Mota tem outro depoimento marcante, publicado em 1993. “Comprei um Ford, ano 1946, para puxar areia para a construção da Ponte da Amizade. Se há algo que marcou Foz antes da Itaipu foi a Ponte da Amizade, Ciudad del Este simplesmente não existia antes. A cidade paraguaia vizinha nossa era Porto Franco. Aquela área era toda coberta por mato.”
Nascido em União da Vitória, Ozires Santos era o prefeito quando foi inaugurada a Ponte da Amizade. Em entrevista concedida em 1994, ele comentou a honra de recepcionar os presidentes Castelo Branco, do Brasil, e Alfredo Stroessner, do Paraguai. “A Ponte da Amizade representou extraordinário passo no progresso desta região. Antes Foz do Iguaçu estava asfixiada. A Ponte da Amizade permitiu a Foz do Iguaçu a arrancada que merecia e precisava para seu desenvolvimento.”
Em entrevista concedida em 1994, Galdino Moro, nascido em Foz em 1929, descreve como acompanhou a construção da obra. “Não só acompanhei de perto a construção como também forneci muita coisa, muitos produtos da roça para os que trabalhavam na obra. O que eles queriam e eu não tinha em casa, com uma caminhonete que eu tinha buscava junto a outros agricultores. Ia buscar produtos em Alvorada do Iguaçu, Itacorá, hoje lugares alagados por Itaipu.”
Viu nascer – As lembranças da época da construção foram publicadas pelo Portal H2FOZ em 2004. O carioca João Magalhães contou que viu a Ponte da Amizade nascer. “A minha melhor lembrança daquela época foi quando a engenharia brasileira conseguiu fechar o arco. Os americanos perguntavam: ‘Como fecharam’? Foi muito estudo, muitas horas de cálculo e muito lápis. Isso sem falar na alegria da inauguração.”
Clementino Acevedo lembrou-se do acidente que vitimou seu colega Tasso Costa Rodrigues. “Ele estava medindo a profundidade do rio. O engenheiro tava com uma bota até o joelho. No fim, o bote virou e ele não conseguiu se salvar por causa da bota. Foram pega ele depois de muitos dias lá na Argentina, uns 80 quilômetros para baixo.”
O antigo motorista do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) descreve com singularidade o cenário da época. “Era um matão que Deus o livre. Era um barzinho e um outro que servia comida. A Vila Portes era tudo virado em aquele taquaruçu. A gente falava nos colégios: ‘Para que fazer ponte dessa aí? Não tem movimento, não tem nada’”, relatou o paulista.
Confira os dados técnicos da Ponte da Amizade
Estrutura: concreto armado
Comprimento: 552,4 metros
Largura: 13,5 metros
Vão livre (o maior do mundo, inaugurado) 303 metros
Largura da pista de rolamento: 9,5 metros
Altura: 78 metros
Na época, a ponte de maior arco em concreto armado do mundo. Construção a cargo de uma comissão especial chefiada pelo engenheiro Almyr França e criada no DNER pelo Decreto nº 40.350 de 14 de novembro de 1956.
O acordo celebrado entre os governos do Brasil e do Paraguai para a execução dessa obra é de 29 de maio de 1956.
Firma construtora: Consórcio, Sociedade de Terraplanagem e Grandes Estruturas “Sotege” e Construtora Rabelo S/A.
Projeto: engenheiro José Rodrigues Leite de Almeida, diretor técnico da Sotege.
Projeto do escoramento: engenheiro Sérgio Marques de Souza.
Execução e fornecimento do escoramento metálico: Companhia Siderúrgica Nacional (Volta Redonda).
Fonte: DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre)
CURIOSIDADES
Presidentes Juscelino Kubitschek e Alfredo Stroessner se encontram sobre a ponte para marcar a “inauguração” da primeira etapa da obra, ainda cercada de ferragens e madeiras. A foto pertence à família de João Cid Furstenberger, que trabalhou na construção da Ponte da Amizade.
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