A história de Foz e da ACIFI contada por seus associados
A Revista ACIFI vai manter permanentemente um espaço para que os associados possam contar suas histórias, relatar dificuldades, sugerir melhorias, dividir experiências. Nesta primeira edição, a ACIFI também contribui com as festividades do centenário, resgatando a história dos associados há mais tempo vinculados à entidade. Numa série de entrevistas, eles falam por que decidiram empreender e relatam como era a Foz do Iguaçu de sua época e o que querem da cidade no futuro.
Hotel Bella Itália – Empresa associada desde setembro de 1977
Foz do Iguaçu era muito carente na atividade agrícola. E sobrou um espaço para abrirmos mercado no fornecimento de produtos para esse setor. Principalmente para o Paraguai. Era uma cidade pacata, com 35 a 36 mil habitantes, típica fronteiriça, que alavancou sua economia com a Itaipu Binacional. Mas o que mais deu força ao comércio da cidade foi a abertura dos negócios com o Paraguai, por meio da invasão dos brasiguaios que deixaram a região. Estima-se que cerca de 200 mil brasileiros foram para lá, e Foz do Iguaçu era o ponto de apoio deles.
A Agrofoz, no Paraguai, acabou se transformando no ponto de referência dos brasiguaios, porque não havia telefonia, nem comunicação com o interior do Paraguai. Quando chegavam as correspondências, sabíamos onde eles moravam e entregávamos. Fazíamos com gosto porque queríamos que eles se desenvolvessem naquela região. Naquela época o governo era militar, e a ACIFI era uma instituição como todas as demais naquele momento histórico, onde não havia interesse em se arrumar conflito nenhum, ainda mais com o poder público. Era simplesmente preservar os interesses da classe e do próprio país.
O estado do Paraná estava se organizando havia 40 anos, e Foz era um dos municípios mais antigos do Paraná. As associações comerciais eram poucas ou estavam começando, e a comunicação era muito difícil. Lembro que em 1975, o Paraná era referência no país em comunicações, mas mesmo assim nós éramos tremendamente deficientes desse serviço. Em 1974, Foz do Iguaçu não tinha 50 telefones (linhas) e custava o mesmo que um automóvel.
A Agrofoz começou com dois funcionários, mas em 1998 nos separamos, e hoje minha família se dedica aos três hotéis: o Bella Itália, inaugurado em 1990; o Agros, em 2008; e agora, em julho deste ano, vamos abrir o Bogari. O grupo todo – incluindo a operadora Loumar Turismo – conta hoje com 200 funcionários.
A preferência pela temática italiana vem das origens familiares que remontam à cidade de Asiago, em Vêneto, Itália. A árvore genealógica da nossa família data do século 15. O forte laço familiar persiste nos negócios, cujo empreendimento é familiar, com o envolvimento dos quatro filhos – dois casais nascidos em Foz – que já me deram seis netos.
ACIFI
O motivo de termos nos associado à ACIFI foi o mesmo de todos os demais associados: ter uma instituição que zela e luta pelos interesses da classe, para que não sejamos uma voz sozinha no deserto. Uma instituição é sempre importante.
A ACIFI é uma instituição que veio para auxiliar, colaborar como ponto de apoio à livre iniciativa e que tem que estar à frente e acima de tudo.
Paraguaçu Automóveis – Empresa associada desde novembro de 1977
Em 1965 não havia nenhuma concessionária de veículos, e o pessoal tinha que sair para comprar carros fora daqui. A economia era mais concentrada na exportação da madeira, tanto que em Foz existiam 55 empresas exportadoras de madeira, tábuas de pinho que eram serradas na região, embarcadas no Rio Paraná e exportadas para a Argentina. Esse era o principal foco econômico da cidade entre 1960 e 1965. Meu irmão Sady tinha uma exportadora em Foz e resolveu montar uma revendedora de automóveis. Naquela época, no Brasil só existiam três marcas – Volkswagen, Ford e GM. Escolheram a Volkswagen.
A empresa surgiu nesse mesmo endereço, num barracão de madeira na metade da quadra, fundada pelos irmãos Hélio, Sady e Lívio Bordin, em agosto de 1965. Foi a primeira concessionária de veículos de Foz, e a Volkswagen, naquela época, só produzia no Brasil dois modelos de carro: o Fusca e a Kombi.
O primeiro grande desafio que enfrentamos foi a falta de comunicação na cidade. Quando nos estabelecemos aqui só existia um telefone local com 180 ramais de telefones. E só conseguíamos nos comunicar para fora da cidade pelo telegrama, que era enviado por telegrafia (emitido pelos Correios por sinais). Quando vieram os aparelhos de telex foi um grande avanço.
Enfim, fomos superando as dificuldades, nos aperfeiçoando. Hoje, temos constantemente que formar e treinar funcionários porque as novas tecnologias mudam rapidamente. Nossos colaboradores são capacitados em Curitiba e São Paulo. Começamos a empresa com cinco pessoas, incluindo os sócios e três mecânicos, e hoje a Paraguaçu de Foz conta com mais de cem funcionários. A família está presente em várias cidades do Paraná e de Santa Catarina, com concessionárias de automóveis.
ACIFI
Nesses anos todos, acompanhamos várias fases de atuação da Associação Comercial. É um órgão importante para a defesa e o desenvolvimento econômico das empresas e da cidade. Em várias épocas, ela cuidou muito dos interesses da fronteira; criou campanhas como elevação do teto de exportação; importação. Foram bandeiras muito importantes na época porque fomentaram negócios nos estabelecimentos de empresas que atendiam o mercado do Paraguai. Houve ainda um acordo mediado pela ACIFI: a exportação, que era feita em cruzeiro, não era em dólar. Emitiam uma guia e recolhiam em cruzeiros, no Banco do Brasil. Essa medida facilitou muito a venda de produtos dessas empresas da região da Vila Portes. Logicamente isso refletia na economia da cidade como um todo.
A ACIFI foi importante nas defesas das situações aduaneiras; da ponte da Argentina; da construção da segunda ponte; da duplicação da BR-277; em missões empresariais; os projetos Empreender e Empretec, em parceria com o Sebrae, dentre outros.
Pertenci à diretoria da ACIFI. Fui primeiro-secretário na gestão do Wanderley Bertolucci Teixeira (2000/2002) e depois fui do Conselho Fiscal da associação. Participamos também da criação do vale-alimentação, o Nutricard. A ACIFI também oferece a proteção ao crédito, pelo SPC, faz treinamento do empresariado. Então, o associativismo é muito importante para a cidade, haja vista o sucesso de outras cooperativas e associações que se formam.
Autofoz – Empresa associada desde janeiro de 1978
A Autofoz começou pequena, apesar de 1996 e 1997 terem sido bons anos para a comercialização de veículos em Foz do Iguaçu por causa da Itaipu. A cidade estava num investimento crescente, e as principais avenidas de Foz foram criadas nesse período. Mas se olharmos a empresa daquela época, a Autofoz de hoje é outra empresa. O mercado fez dela uma empresa mais moderna, mais dinâmica, mais profissional e muito maior, desde sua estrutura física ao seu corpo de colaboradores. Na época eram cerca de 30 funcionários, e hoje são cem colaboradores.
A partir de 1994, com o Plano Real, o Brasil passou por um momento de estabilização, após anos de inflação nos quais não se conseguia traçar metas de longo prazo. Com a estabilização, começou a se perceber que o país tinha um potencial de crescimento. Tivemos o agronegócio, um setor com um crescimento bastante significativo; a capacidade de consumo da população aumentou, proporcionando uma economia em crescimento.
Foz não ficou alheia a tudo isso, embora tivéssemos muitos problemas em 2002, com a instabilidade provocada pela crise mundial e o dólar subindo muito. Desta época para cá, no entanto, o Brasil foi se restabilizando, com a política de aumentar o crédito no mercado interno. E os indicadores são claros. Em Foz do Iguaçu, os imóveis acompanharam o crescimento do Brasil na sua valorização. O turismo foi fortalecido, aumentando principalmente o chamado turismo interno. Enfim, tudo isso ajudou a economia de Foz do Iguaçu.
Para o centenário, a perspectiva ainda não é muito otimista porque não houve investimento no setor industrial, que para Foz do Iguaçu poderia ser um agregado mais forte. Obviamente que temos uma grande indústria, que é a Itaipu, mas é a única e tem um formato específico de trabalho.
Se tivéssemos um parque industrial um pouco maior, ajudaria muito aos setores turísticos e setor comercial. Veja o exemplo de Cianorte, um polo de confecções. Nós não temos um polo industrial, e poderíamos ter até agregando a Tríplice Fronteira com mais mercados e formas de compartilhar.
ACIFI
Há coisas a serem feitas, mas eu acredito em Foz do Iguaçu. E aí entra a ACIFI, que tem seriedade e credibilidade para puxar a sociedade a participar e fazer planejamentos. Temos uma cultura de planejamento estratégico que é feita em cima de governo, e não fomos muito felizes em cima disso, nesses anos todos, sem desmerecer ninguém em particular.
Fala-se que temos que trazer mais turistas e fazer com que eles fiquem mais tempo na cidade. Mas qual é o plano estratégico montado para isso? Propaganda e ações isoladas ajudam, mas temos potencial de fazer mais para movimentar toda uma cadeia produtiva desse segmento. E a ACIFI tem condições de aumentar o corpo técnico, com pessoas especializadas para pensar nesse planejamento e termos mais propostas. Sabemos que isso é difícil, pois a maioria das associações tem as mesmas dificuldades. Mas a direção da Autofoz tem clareza que a associação é salutar. Foz é uma cidade jovem e precisa fortalecer bastante a Associação Comercial.