Edição #12

A crise política na escola

Idete TelesPor  Idete Teles

A política tem como fim o bem comum, a busca pela justiça, liberdade e igualdade social. Entretanto a política brasileira hoje é vista em grande medida somente como palco de corrupção, uma “coisa suja”. Rotineiramente escândalos de corrupção contaminam a esperança já frágil do cidadão. Neste sentido, é essencial entender exatamente o que a corrupção política significa. Equivocadamente, por vezes, pensa-se que a corrupção está restrita ao problema financeiro dos desvios de dinheiro público, subornos, propinas, etc.

Entretanto a corrupção atinge instâncias mais profundas da sociedade. Implica a degradação ou aniquilamento de valores políticos e morais. A cada nova evidência de corrupção, fortalece-se a descrença do cidadão na própria política e ao mesmo tempo se enfraquecem valores como honestidade, justiça, honra, etc. Em outros termos, a corrupção leva consigo não só o dinheiro do cidadão, mas também a esperança e acaba ou contamina valores morais.

O que se pode fazer diante desta realidade? É urgente um olhar da sociedade de forma reflexiva e crítica. Reflexiva no sentido de colocar-se no cenário, entender-se como parte deste contexto e assim assumir uma atitude primeiramente em relação a si mesmo. Em outros termos, olhar para si e forjar seu papel. Ademais, ser crítico, o que significa não apenas o lugar-comum de apontar os problemas da política ou dos políticos atuais, mas também e inclusive no sentido de construir alternativas, caminhos, esperanças.

votoNeste sentido, a educação pode oferecer um frutífero caminho. Não só porque as crianças e adolescentes possam ser o futuro do Brasil, mas porque para qualquer futuro é necessário pensar ou repensar o presente e inseri-los neste. A escola oferece um espaço oportuno para o esclarecimento e fortalecimento da original finalidade da política, isto é, o bem comum. Podemos não ser sujeitos políticos por natureza, talvez contrariando assim Aristóteles, mas seguramente necessitamos tornarmo-nos políticos para nosso bem, como diria Hobbes.

A política é sui generis à sociedade, e a educação é responsável de forma expressiva pela formação integral do ser humano. A escola é uma das instituições principais na formação do caráter de uma pessoa, dos valores, da cidadania, logo tem papel importante na política que efetivamente pensa o bem comum. Dessa forma, creio que a crise política no Brasil terá ao menos um lado bastante positivo: a esperança na política renovada por futuros cidadãos mais conscientes.


Com doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina, Idete Teles é professora de Ética no curso de Filosofia da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Na universidade ela também leciona as disciplinas Ética e Ciência e Introdução ao Pensamento Científico.

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