Educação financeira em tempos de crise
Wolney Carvalho
A crise econômica de 2015 e a redução do PIB em 3,8% fizeram com que o percentual de famílias endividadas no Brasil chegasse a 62,3% naquele ano. Em 2017 essa cifra se reduziu para 57,6%, mas em 2018, com a estimativa de crescimento do PIB em torno de 1,53% e o desemprego atingindo os 13%, já se pode verificar novo aumento do endividamento familiar. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), de maio, apontam que o percentual atual de famílias com dívidas chega a 60,2% do total delas no Brasil.
O mais preocupante é que historicamente esse agente econômico tem sofrido o impacto das altas taxas de juros, a exemplo do cheque especial e dos cartões de crédito. Em matéria do Estadão de 27 de junho, verifica-se que os juros médios do cheque especial atingiram o patamar de 311,9% ao ano, ou 12,57% ao mês, ultrapassando os juros médios cobrados na utilização dos cartões de crédito, os quais estão na faixa de 303,6% ao ano, ou 12,33% ao mês.
Ainda segundo a CNC, a principal forma de endividamento das famílias em abril de 2018 era a que se verificava com a utilização de cartão de crédito, representando 76,1% dos inadimplentes, seguido por carnês (16,5%) e o crédito pessoal (10,4%). Portanto, colocar em prática a educação financeira permitirá aos cidadãos em geral administrar melhor as dívidas contraídas, bem como contrair novas dívidas quando necessário, efetuando-as de forma mais racional.
Isso significa que num primeiro momento é importante que as famílias ou pessoas endividadas saibam o montante da renda mensal auferida e depois como gastam esses recursos. Para tanto é sempre sugestivo fazer uma planilha na qual as rendas e os gastos possam ser registrados, pois isso permitirá um acompanhamento com maior clareza das movimentações orçamentárias. Além do mais, ter em mente quais são as rendas fixas e variáveis, assim como os gastos fixos e variáveis, abrirá a oportunidade de mudanças substanciais em se tratando de uma melhoria nas finanças pessoais e, por consequência, na própria qualidade de vida.
É sabido que a maioria dos brasileiros não tem o hábito de registrar suas receitas/despesas familiares. Mas os resultados são surpreendentes quando se coloca em prática o controle orçamentário a cada dia, pois fica mais fácil perceber o quanto se gasta e com o que é efetuado o gasto. Ademais, os recursos economizados no cotidiano poderão ser utilizados para outras demandas úteis, a exemplo: um curso de línguas, a compra de um bom livro, uma viagem com a família, uma viagem de estudos para os filhos, ou até mesmo a redução das dívidas acumuladas.
Fica a dica: controle seus recursos orçamentários antes que as dívidas controlem sua vida!
Wolney Carvalho é professor do curso de Ciências Econômicas da Unila