50 anos de uma vida bem intensa
Relações de Brasil e Paraguai nunca mais foram as mesmas após obra inaugurada em 1965; Foz do Iguaçu e Ciudad del Este buscam ampliar integração socioeconômica, em meio à revitalização, de olho no turismo
REVISTA ACIFI – Alexandre Palmar
Principal símbolo da fronteira, a Ponte da Amizade completa 50 anos em 27 de março e busca fortalecer os laços entre Brasil e Paraguai. Inaugurada em 1965, a principal ligação dos países passa por uma revitalização completa com o objetivo de reforçar suas raízes e corrigir desvios do passado para alcançar novos horizontes. Pelo andar da carruagem, a cinquentona tem tudo para sair-se bem de corpo e alma.
Documentos históricos mostram que os sonhos dos antigos moradores continuam atuais. Um registro atemporal é o vídeo da Agência Nacional disponível no YouTube. Com ufanismo típico da época, o locutor apresenta a “estupenda obra de arte”, recém-inaugurada, como um “verdadeiro monumento, que é um marco novo ao unir duas nações vizinhas e a inspirar a consolidação da amizade entre os povos latino-americanos”.
Muita água já passou debaixo daquele imenso vão livre. Hoje a maior obra da região antes da Itaipu Binacional é a representação mais simbólica das oscilações de nossa história. Os rótulos variam conforme a maré. Em tempos de alegria, é sinônimo de integração dos povos da fronteira e cartão-postal de um dos maiores centros comerciais do planeta. Se o caldo entorna, logo sua imagem é manchada com a chancela de ser rota do contrabando, descaminho e tráfico. Se surge um protesto midiático, então é fechamento na certa.
La Puente de la Amistad deve conviver com essas contradições, digamos, por mais um tempo. Ninguém é louco de dizer que consegue colocar ordem na casa da noite para o dia. Estamos na fronteira mais movimentada do Brasil, com expressivo fluxo de turistas e compristas, além de intenso comércio de exportação e importação. Sem falar que num raio de 50 quilômetros vivem um milhão de pessoas no Brasil, Paraguai e Argentina.
O caminho é dialogar e respeitar o vizinho. É isso que brasileiros e paraguaios representantes de órgãos públicos e privados têm procurado fazer. Seja em Foz do Iguaçu, seja em Ciudad del Este, diferentes setores da sociedade estão falando a mesma língua. Temos tentado viver no mesmo fuso horário o ano inteiro. É óbvio que nem todos comungam desse momento: as críticas à reforma da ponte estão aí para mostrar que é impossível agradar a todos.
O certo é que as transformações começam a dar resultado, como veremos nesta reportagem, feita sem a pretensão de ser uma radiografia. Longe de esconder as marcas do passado e do presente, queremos aqui expor um ponto de vista. Queremos valorizar a história, as conquistas e os esforços atuais para construir um futuro melhor para todos. Sobretudo destacar a importância do Paraguai para o desenvolvimento socioeconômico de Foz do Iguaçu. É desse ângulo que iniciamos este especial.
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Reinvenção, Cecília Meireles
ESPECIAL 50 ANOS PONTE DA AMIZADE
50 anos de uma vida bem intensa
Ceasa é símbolo das relações comerciais
Comunidades buscam desenvolvimento integrado
Revitalização é um presente de aniversário
Reforma da ponte pode contribuir para cota de US$ 500
Receita Federal “quer o desenvolvimento calcado na legalidade”
Integração dos povos precisa de bases concretas
Se há algo que marcou Foz antes da Itaipu foi a Ponte da Amizade