Edição #9

A conta que não fecha

Economista Luiz Gustavo Medina diz que, mais do que acertar receita e despesa, a recuperação da economia nacional depende de eliminar distorções e desperdícios e de reorientar o uso de recursos públicos

_MG_8484Pelo descontrole da máquina pública e por conta de uma série de decisões equivocadas, o governo federal fracassou e levou o Brasil a uma cadeia negativa. Juros nas alturas e câmbio instável inibem o investimento e fazem cair a produção. Menos oferta, mais inflação e menos consumo. Com essa combinação perigosa, o desemprego aumenta. Há mais gente sem emprego e menos gente para comprar. Os brasileiros se encontram nesse círculo e dentro de um caldeirão de corrupção. Quem traçou esse quadro foi Luiz Gustavo Medina. A última edição do Ciclo de Palestras de 2015 trouxe para Foz do Iguaçu o economista para falar sobre o cenário econômico e perspectivas para 2016.

Ao tratar sobre o tema, desenrolou-se a discussão sobre as causas mais profundas do mau funcionamento do Estado brasileiro. O debate sobre o modelo político-econômico e seus problemas chamou a atenção do público presente no Hotel Golden Park Internacional. De acordo com Medina, a política de incentivo ao consumo implementada nos últimos anos foi um dos motivos que levaram a economia ao estado atual de deterioração. “De 1994 a 2010, o país pegou uma estrada e foi numa direção de crescimento que parecia que ia dar certo, mas de 2011 para cá o Brasil se desviou e agora está num caminho rumo ao desconhecido”, afirmou.

Em sua explanação, o economista apontou para um setor público voltado para si mesmo e um governo que já não cabe dentro do próprio orçamento, pois gasta mais do que arrecada. “A verdade é que Brasília não produz nem um alfinete, não tem dinheiro, e ninguém consegue viver assim por muito tempo. O brasileiro precisa entender que toda receita do governo vem de impostos que são pagos por nós e precisam voltar em forma de infraestrutura e serviços”, enfatizou Medina.

Na opinião dele, a discussão é muito amadora e cabe à sociedade associar que se o governo está dando um benefício para alguém, ou ele está tirando de outra pessoa ou está custando mais caro para todos. “Do jeito que é falado parece que o dinheiro utilizado pelo país brota em árvore. Parece que você pode dar uma coisa sem tirar outra, como se as causas não tivessem consequências; e a população não consegue entender o desenho geral do problema”, avaliou.

Com poucos recursos, o governo aposta suas últimas fichas na recriação da CPMF, sob a justificativa de cobrir o déficit da Previdência Social. E esse é um tema que a sociedade precisa discutir melhor. Medina sugere uma linha de raciocínio para a reforma previdenciária: “Ou nós pagamos mais para que as pessoas que estão se aposentando tenham dinheiro ou nós pedimos que essas pessoas não se aposentem tão cedo”.

Para ele, quando não há o debate profundo, fica a sensação de que as mudanças na aposentadoria representam uma maldade com quem já se aposentou ou está prestes a se aposentar, e essa é uma falha lamentável. “É obrigatório considerar nas análises os impactos nas receitas e despesas em políticas e programas sociais. Apresentar ou ver apenas um lado da moeda pode levar a erros e distorcer realidades e perspectivas”, ponderou.

O PIB deste ano deve recuar 3%, e essa condição aumenta a probabilidade de que em 2016 também haja forte recessão e não ocorra a retomada necessária. Os resultados dessa desordem generalizada e os equívocos na gestão da economia, segundo ele, produzem desemprego e desaquecem o consumo. Os investidores internacionais, por sua vez, estão com um pé atrás porque não veem um futuro muito promissor.

“Para nosso azar, a gente tem um problema econômico que se misturou a um problema político. Isso me leva a crer que o primeiro semestre de 2016 pode ser tão ruim quanto foi o segundo semestre de 2015. Quando se trata de economia, se nada for feito a situação só piora, e infelizmente a gente não conseguiu sensibilizar Brasília para o tamanho do problema que nós temos hoje”, lamentou.

 

Soluções para começar a arrumar a casa

Contudo, de acordo com Medina, essa situação não é duradoura e se resolverá assim que for solucionada a crise política. Segundo o economista, a solução passa por investimentos em infraestrutura para que o país possa ter produtividade. Ele assinala que, nos últimos anos, o incremento da renda não foi acompanhado pela evolução da produtividade, o que afetou os incentivos ao investimento empresarial e resultou na retração da economia.

Medina defende também que os recursos investidos na educação gerem resultados efetivos. O economista disse ainda que, para restituir a confiança, outra tarefa seria baixar o custo da máquina pública e aprovar as reformas pendentes, como a política e fiscal. “Brasília precisa assumir que o Brasil passa por um momento delicado e parar de gastar.”

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