Sociedade deve zelar pelo interesse público
Procuradora diz que é preciso abrir os olhos contra a corrupção
Apesar dessas ferramentas de controle social, as pessoas não fazem uso delas visando ao bem comum. A grande maioria das denúncias que chegam ao MPF é de reclamações relacionadas à insatisfação com interesses privados, travestidas com uma roupagem de interesse coletivo, alerta Daniela Caselani Sitta, procuradora da República em Foz. Ela cita como exemplo de “cegueira e desinteresse” o inacabado Centro de Atendimento ao Turista em frente à sede da prefeitura. Trata-se de uma obra de 165 metros quadrados, orçada em R$ 549 mil, com construção iniciada em junho de 2014 e término previsto para outubro daquele ano.
O valor do contrato está exposto na placa de obra, diante dos olhos de milhares de pessoas que passam diariamente pela Praça Getúlio Vargas. Considerando o valor de R$ 549 mil, o metro quadrado custou R$ 3,3 mil. Em junho de 2014, quando a construção iniciou, o custo unitário básico de construção divulgado pelo Sinduscon Paraná Oeste para o padrão comercial CSL-16 (o mais alto) era de R$ 1,5 mil.
“Será que nenhuma pessoa, cidadão ou profissional que frequenta a Prefeitura para aprovar seus projetos percebeu que a conta não fecha? Esse é um exemplo claro de que a sociedade não está enxergando ou se enxerga faz de conta que não vê, o que dá a sensação de que o que é público não pertence a ninguém”, ressalta Daniela.
Conforme a procuradora, o desinteresse pela coisa pública tem como consequência a corrupção, que é uma via de mão dupla, pois só existe corrupto se existir corruptor. Uma mudança de verdade requer do cidadão um sentimento de pertença com a coisa pública. O cidadão precisa observar o que acontece na rua onde mora; na escola pública onde o filho está matriculado; no posto de saúde em seu bairro; no transporte coletivo, etc.
“A reflexão que fica é: a que ponto o país e a cidade precisaram chegar para que despertasse atenção da população para a política local? Foi necessário chegar a uma situação extrema, de ausência de serviço público, como no caso da saúde, para que a população de Foz do Iguaçu começasse a reagir, cobrando dos vereadores o cumprimento de seu dever de fiscalizar o correto emprego das verbas municipais e legislar em favor do bem comum. Este é o xis da questão: não é possível mais cruzar os braços. A cidadania ativa dá trabalho. É preciso estar bem informado, atento e às vezes contrariar interesses em prol da coletividade. Chegou a hora de transformar as reclamações em ações práticas em benefício da sociedade onde vivemos”, completa Daniela Caselani Sitta.
Somos todos seres políticos
É comum ouvirmos as pessoas dizendo que não gostam, por isso não se envolvem com a política, reflete a procuradora. Muito provavelmente quem diz isso não conhece o sentido da palavra política. Política é a ciência de governança de um Estado. O termo tem origem no grego politikos, uma derivação de polis, que designa aquilo que é público.
“A política é a forma que a humanidade encontrou para tornar possível as ações de interesse individual e coletivo. Portanto o homem é, na sua essência, um ser político. Todavia, devido à ineficiência dos serviços do Estado, cuja causa principal é o desvio de recursos públicos, a política ganhou um sentido pejorativo, sendo usada como sinônimo de corrupção. Está na hora de mudar essa forma de pensar. Felizmente já está havendo sinais de mudança”, descreve a procuradora.
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